A elaboração de
um business plan é um exercício extremamente saudável, pois
possibilitará ao empreendedor ter uma visão mais tangível de sua empresa
Por Carlos Miranda*
Frequentemente
sou procurado por empreendedores que possuem grandes ideias e que estão
pensando em começar um novo negócio ou mudar o existente de forma importante e,
para tal, estão em busca de financiamento via sócios financeiros. A primeira
orientação que dou a essas pessoas é que elaborem o seubusiness
plan ou plano
de negócios.
A maioria dessas pessoas reage
como se acabasse de ouvir um palavrão. Na sequência, ficam extremamente desanimadas,
como se a sentença de morte de seu negócio tivesse sido assinada. Os mais
persistentes pedem orientações sobre empresas ou profissionais que possam
ajudá-los nessa tarefa, mas o fato é que a grande maioria foge a todo custo da
elaboração do documento.
Fazer um plano de negócios não
pode e não deve ser encarado dessa forma, pois o mesmo nada mais é do que uma
tradução daquilo que se espera para um negócio. Aliás, a elaboração de um plano
de negócios é um exercício extremamente saudável, pois possibilitará ao
empreendedor ter uma visão mais tangível de seu negócio e prever (ou tentar
prever) as principais variáveis que irão impactar o mesmo.
Se o empreendedor não está
acostumado com planilhas e apresentações, isso é o que menos importa, o que
realmente importa é tentar estimar o comportamento daquelas variáveis
mencionadas.
Para tentar desmistificar o
plano de negócios e para que o mesmo seja, de fato, um exercício positivo para
o empreendedor, vamos entender a lógica de um e como seria o seu passo a passo.
Primeiramente, vamos separar os
grandes grupos que influenciam a vida de uma empresa: receitas, custos fixos,
custos variáveis, tributos, investimentos e capital de giro. Se o empresário
conseguir, de forma organizada, separar esses grupos e dividi-los em sub-grupos
e, a partir daí, alimentar as informações dos mesmos ao longo de um período de
tempo estimado, terá, muito provavelmente, se não um plano de negócios
sofisticado, pelo menos um bom plano de voo e alguma previsibilidade para o seu
empreendimento. Vamos então ao que fazer em cada grupo e seus sub-grupos.
Comecemos pelo mais gostoso, as
receitas. Nesse grupo vamos tentar simular e subdividir todos os grupos que
gerarão receitas para a organização. Aqui o mais importante é delimitar o que
se pretende vender e para que público. Definir o mercado de atuação, seu
tamanho e a real demanda pelos seus produtos ou serviços é fundamental para não
ter surpresas no futuro. Nessa simulação deve-se estimar também o preço que se
pretende praticar e se o mesmo público estaria disposto a pagá-lo. Uma regra
importante para um bom plano de negócios é tentar obter a maior quantidade de
detalhes possíveis, tais como quantidade de itens, valores unitários, volume de
vendas, entre outros.
O próximo passo deverá ser estimar
os seus custos fixos. Esse parece um exercício mais fácil. No entanto, durante
o seu exercício o empreendedor normalmente lembra de alguns custos que não
havia previsto e, mais importante, reavalia a real necessidade de alguns deles
vis-a-vis o tamanho de sua organização. Eu sempre digo que devemos pensar
grande, mas não em relação aos custos fixos. Uma empresa deve sempre ter custos
de acordo com o seu tamanho e não deve jamais financiar as vaidades de seus
sócios. Aqui a regra é pé no chão.
O mesmo deveremos fazer quanto
aos custos variáveis. Veja que os mesmos estarão sempre variando conforme o seu
negócio cresce e, portanto, a sua receita. Aqui o importante é listar como
ocorre essa variação e quanto se pode reduzir essa relação entre receita e alguns
custos. O nome aqui é busca de eficiência.
Nos tributos eu sempre
recomendo que não se busque nenhuma mágica tributária. Faça o mais simples e
correto de tal forma que os famosos planejamentos tributários não ortodoxos não
se tornem no futuro entraves para seu crescimento e riscos para você e para
algum potencial investidor.
Quanto aos investimentos,
deve-se prever toda a estrutura necessária para aquele negócio se desenvolver.
Aqui o erro mais comum é não considerar que o negócio, muito provavelmente, ficará
um bom período sem gerar receita. Considerar esse período de forma conservadora
é fundamental para não deixar de considerar os custos pré-operacionais.
Finalmente, uma variável que
muitos esquecem de simular: a necessidade de capital de giro. Normalmente essa
necessidade de capital de giro é obtida com uma conta simples: tudo aquilo que
se tem para receber no curto prazo menos tudo aquilo que se tem para pagar no
curto prazo. Dependendo da natureza do negócio, dos prazos de recebimento e do
pagamento a fornecedores teremos uma maior ou menor necessidade de capital de
giro.
Muitos negócios quebram pois
pouca gente entende que o capital de giro deve ser compreendido como uma
máquina ou equipamento necessário para a “produção”. O que quero dizer aqui é
que esse dinheiro necessário ao negócio tem algumas regras específicas: não
deve ser distribuído aos sócios, deve ser previsto e revisto sempre ao longo da
vida da empresa e a cada movimento de crescimento deve ser provisionado para
não gerar necessidade de endividamento desnecessário.
Durante vários anos fazendo e
revisando planos de negócios, aprendi várias lições, mas uma das maiores é que
empreendedores por sua natureza são seres diferenciados e extremamente
otimistas e é aqui que está o maior desafio para elaborar um plano de negócios:
ser o mais conservador possível, principalmente na hora de projetar as
receitas. O otimismo pode voltar, mas só depois do plano estar pronto. Outra
coisa importante para não esquecer. Investidores ficam mais seguros na medida
que percebem nos empreendedores um maior domínio sobre a sua empresa e um maior
conhecimento sobre o que pretendem para o futuro e, realisticamente, como
chegarão lá. Boa sorte!
*Carlos
Miranda é presidente e fundador do fundo de Private Equity BR Opportunities,
mestre em administração de empresas pelo IBMEC RJ e co-autor do livro “Empresas
Familiares Brasilieiras”, organizado pelo Prof. Ives Gandra Martins
twitter: @carlosmiranda2
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